sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Repassando: Atividades se ajustam à maré alta

REPASSANDO:
http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/1379-atividades-agricolas-se-ajustam-a-mare-alta
Atividades se ajustam à maré altaPDFImprimir

Projeto avalia o estilo de vida e os sistemas agrícolas
de comunidades do Pará e do Amapá

por Paulo Henrique Gadelha / Setembro 2012
foto Acervo do Pesquisador


Tradicionalmente, março é o mês de marés altas em várias cidades do Estado do Pará. Esse fenômeno, muitas vezes, ocasiona diversos transtornos à vida de várias famílias, sobretudo, das que moram à margem de rios, pois, dependendo da magnitude das marés, algumas precisam abandonar suas casas e alterar suas atividades econômicas. Essas questões são estudadas no Projeto de Pesquisa “Adaptações Socioculturais de Caboclos no Estuário Amazônico do Brasil para Eventos Extremos de Maré”, desenvolvido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Esta iniciativa foi elaborada para avaliar como as populações ribeirinhas do Pará e do Amapá adaptam o seu estilo de vida e os seus sistemas agrícolas aos eventos extremos de grandes marés, chamados também de lançantes”, explica a professora e pesquisadora do NAEA, Oriana Almeida, coordenadora do Projeto. “Esta avaliação será feita de forma comparada, analisando-se a economia familiar e o processo de adaptação de ribeirinhos de algumas comunidades dos dois Estados, localizadas no estuário do Rio Amazonas.”
O trabalho começou a ser executado em fevereiro de 2012 e tem previsão para ser concluído em 2015. Assim, muitos dados ainda serão gerados. De acordo com a pesquisadora, a equipe do Projeto estuda como essas marés têm variado ao longo dos últimos anos, ou seja, se estão aumentando ou diminuindo e, dependendo dessa variação, de que forma elas provocam necessidades de adaptação das comunidades ribeirinhas. A análise inicial de dados climáticos, que serão complementados pelos dados do próprio Projeto, é feita na Universidade da Columbia, localizada em Nova Iorque, nos Estados Unidos, pela pesquisadora Kátia Fernandes, integrante do Projeto.

Açaí é alternativa para obter renda durante as lançantes

A partir das pesquisas de campo já realizadas e também pelo conhecimento acadêmico sobre o assunto, é possível formular algumas hipóteses, no que diz respeito a uma possível alteração no regime de marés. “Pelo que se tem observado, o açaí é uma das alternativas encontradas para a obtenção de renda. Em algumas comunidades, relatos de produtores sinalizam que o aumento das marés inviabiliza a prática do plantio e colheita de alguns produtos agrícolas. Se os dados mostrarem que esse aumento é generalizado, mais famílias irão plantar açaí. Este processo de expansão é denominado de 'açaização do estuário amazônico'”, explica Oriana Almeida.
Conforme a coordenadora, culturas de plantio e colheita, como  as de milho, feijão e mandioca, precisam, por um determinado tempo, dependendo do tamanho das lançantes, ser substituídas por outras atividades. Nos últimos anos, as famílias têm expandido áreas de açaí, por razão do  aumento de preços deste produto, e, possivelmente, reduzido áreas de culturas anuais.
Entretanto, conforme os pesquisadores, muitas famílias ainda necessitam aprender e se integrar dentro do sistema burocrático e, assim, buscar obter essas rendas disponíveis pelo governo. Esse processo nem sempre é simples, pois vários ribeirinhos não possuem uma série de documentação requerida, como Carteira de Identidade e Cadastro de Pessoa Física (CPF). “Esses documentos são o primeiro passo para obtenção de benefícios, como aposentadoria, bolsa escola e seguro desemprego”, complementa.
Além de verificar a variação do tamanho das marés nos últimos anos, o Projeto de Pesquisa vai analisar de que forma esses eventos estão associados a outros fatores climáticos – que influenciam na vida social e econômica das populações tradicionais ribeirinhas. De acordo com Oriana Almeida, o objetivo final é criar um sistema de alerta de longo prazo. “Com esse sistema, pretende-se informar ao ribeirinho o que esperar em termos de probabilidade de ocorrência de altas marés em estações críticas do ano. Esse alerta será dado por meio de sistema de rádio. Assim, as comunidades poderão se preparar para esses eventos extremos”, considera.
Após o sistema de alerta começar a operar, será possível, então, avaliar de que forma as famílias, que vivem às margens dos rios, se adaptam ao aumento das marés. Como forma complementar, as comunidades terão conhecimento sobre as lançantes e as mudanças climáticas por meio de cartilha educativa, com linguagem simples e adequada à população.

Marégrafos captarão dados para formar sistema de alerta

A iniciativa conta com a parceria de algumas organizações e instituições locais de ensino e pesquisa. Uma delas é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), no Campus de Abaetetuba, região nordeste do Estado. Duas comunidades do município são utilizadas para as pesquisas de campo do Projeto. Há, também, estudos em duas comunidades de Ponta de Pedras, no Marajó, e, ainda, em duas cidades do Amapá: Mazagão e Ipixuna.
Segundo a coordenadora, para o andamento das atividades, alguns equipamentos ainda serão adquiridos. Um deles é o marégrafo, instrumento que registra automaticamente o ciclo diurno das marés em um determinado ponto localizado na costa. Esse registro chama-se maregrama. Os instrumentos serão inseridos na infraestrutura da Marinha, outra parceira do Projeto, tanto no Pará quanto no Amapá. Os marégrafos irão coletar dados (previsão e medição do tamanho das marés), os quais servirão, por exemplo, para o sistema de alerta voltado aos ribeirinhos. “Quando o Projeto for concluído, esses instrumentos irão permanecer na Marinha para a coleta de dados de longo prazo, uma vez que análises de mudanças climáticas exigem dados de longo prazo”, diz a docente.

Colaboração – O Projeto conta com a participação do professor Sérgio Rivero, do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA; do doutor Miguel Pinedo Vasquez, da Universidade da Columbia, nos Estados Unidos; da meteorologista brasileira Kátia Fernandes, que faz pós-doutorado na Universidade da Columbia; do pesquisador Nathan Vogt, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe); do professor canadense Peter Deadman, da Universidade de Waterloo, no Canadá; e do professor Eduardo Brondízio, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.
Há, ainda, alunos de graduação e pós-graduação da UFPA e de outras instituições que também colaboram produzindo pesquisas relacionadas ao âmbito do Projeto. O financiamento da iniciativa é oriundo do International Development Research Centre (IDRC), Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional, do Canadá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário