sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Repassando: Atividades se ajustam à maré alta

REPASSANDO:
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Projeto avalia o estilo de vida e os sistemas agrícolas
de comunidades do Pará e do Amapá

por Paulo Henrique Gadelha / Setembro 2012
foto Acervo do Pesquisador


Tradicionalmente, março é o mês de marés altas em várias cidades do Estado do Pará. Esse fenômeno, muitas vezes, ocasiona diversos transtornos à vida de várias famílias, sobretudo, das que moram à margem de rios, pois, dependendo da magnitude das marés, algumas precisam abandonar suas casas e alterar suas atividades econômicas. Essas questões são estudadas no Projeto de Pesquisa “Adaptações Socioculturais de Caboclos no Estuário Amazônico do Brasil para Eventos Extremos de Maré”, desenvolvido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Esta iniciativa foi elaborada para avaliar como as populações ribeirinhas do Pará e do Amapá adaptam o seu estilo de vida e os seus sistemas agrícolas aos eventos extremos de grandes marés, chamados também de lançantes”, explica a professora e pesquisadora do NAEA, Oriana Almeida, coordenadora do Projeto. “Esta avaliação será feita de forma comparada, analisando-se a economia familiar e o processo de adaptação de ribeirinhos de algumas comunidades dos dois Estados, localizadas no estuário do Rio Amazonas.”
O trabalho começou a ser executado em fevereiro de 2012 e tem previsão para ser concluído em 2015. Assim, muitos dados ainda serão gerados. De acordo com a pesquisadora, a equipe do Projeto estuda como essas marés têm variado ao longo dos últimos anos, ou seja, se estão aumentando ou diminuindo e, dependendo dessa variação, de que forma elas provocam necessidades de adaptação das comunidades ribeirinhas. A análise inicial de dados climáticos, que serão complementados pelos dados do próprio Projeto, é feita na Universidade da Columbia, localizada em Nova Iorque, nos Estados Unidos, pela pesquisadora Kátia Fernandes, integrante do Projeto.

Açaí é alternativa para obter renda durante as lançantes

A partir das pesquisas de campo já realizadas e também pelo conhecimento acadêmico sobre o assunto, é possível formular algumas hipóteses, no que diz respeito a uma possível alteração no regime de marés. “Pelo que se tem observado, o açaí é uma das alternativas encontradas para a obtenção de renda. Em algumas comunidades, relatos de produtores sinalizam que o aumento das marés inviabiliza a prática do plantio e colheita de alguns produtos agrícolas. Se os dados mostrarem que esse aumento é generalizado, mais famílias irão plantar açaí. Este processo de expansão é denominado de 'açaização do estuário amazônico'”, explica Oriana Almeida.
Conforme a coordenadora, culturas de plantio e colheita, como  as de milho, feijão e mandioca, precisam, por um determinado tempo, dependendo do tamanho das lançantes, ser substituídas por outras atividades. Nos últimos anos, as famílias têm expandido áreas de açaí, por razão do  aumento de preços deste produto, e, possivelmente, reduzido áreas de culturas anuais.
Entretanto, conforme os pesquisadores, muitas famílias ainda necessitam aprender e se integrar dentro do sistema burocrático e, assim, buscar obter essas rendas disponíveis pelo governo. Esse processo nem sempre é simples, pois vários ribeirinhos não possuem uma série de documentação requerida, como Carteira de Identidade e Cadastro de Pessoa Física (CPF). “Esses documentos são o primeiro passo para obtenção de benefícios, como aposentadoria, bolsa escola e seguro desemprego”, complementa.
Além de verificar a variação do tamanho das marés nos últimos anos, o Projeto de Pesquisa vai analisar de que forma esses eventos estão associados a outros fatores climáticos – que influenciam na vida social e econômica das populações tradicionais ribeirinhas. De acordo com Oriana Almeida, o objetivo final é criar um sistema de alerta de longo prazo. “Com esse sistema, pretende-se informar ao ribeirinho o que esperar em termos de probabilidade de ocorrência de altas marés em estações críticas do ano. Esse alerta será dado por meio de sistema de rádio. Assim, as comunidades poderão se preparar para esses eventos extremos”, considera.
Após o sistema de alerta começar a operar, será possível, então, avaliar de que forma as famílias, que vivem às margens dos rios, se adaptam ao aumento das marés. Como forma complementar, as comunidades terão conhecimento sobre as lançantes e as mudanças climáticas por meio de cartilha educativa, com linguagem simples e adequada à população.

Marégrafos captarão dados para formar sistema de alerta

A iniciativa conta com a parceria de algumas organizações e instituições locais de ensino e pesquisa. Uma delas é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), no Campus de Abaetetuba, região nordeste do Estado. Duas comunidades do município são utilizadas para as pesquisas de campo do Projeto. Há, também, estudos em duas comunidades de Ponta de Pedras, no Marajó, e, ainda, em duas cidades do Amapá: Mazagão e Ipixuna.
Segundo a coordenadora, para o andamento das atividades, alguns equipamentos ainda serão adquiridos. Um deles é o marégrafo, instrumento que registra automaticamente o ciclo diurno das marés em um determinado ponto localizado na costa. Esse registro chama-se maregrama. Os instrumentos serão inseridos na infraestrutura da Marinha, outra parceira do Projeto, tanto no Pará quanto no Amapá. Os marégrafos irão coletar dados (previsão e medição do tamanho das marés), os quais servirão, por exemplo, para o sistema de alerta voltado aos ribeirinhos. “Quando o Projeto for concluído, esses instrumentos irão permanecer na Marinha para a coleta de dados de longo prazo, uma vez que análises de mudanças climáticas exigem dados de longo prazo”, diz a docente.

Colaboração – O Projeto conta com a participação do professor Sérgio Rivero, do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFPA; do doutor Miguel Pinedo Vasquez, da Universidade da Columbia, nos Estados Unidos; da meteorologista brasileira Kátia Fernandes, que faz pós-doutorado na Universidade da Columbia; do pesquisador Nathan Vogt, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe); do professor canadense Peter Deadman, da Universidade de Waterloo, no Canadá; e do professor Eduardo Brondízio, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.
Há, ainda, alunos de graduação e pós-graduação da UFPA e de outras instituições que também colaboram produzindo pesquisas relacionadas ao âmbito do Projeto. O financiamento da iniciativa é oriundo do International Development Research Centre (IDRC), Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional, do Canadá.

domingo, 16 de setembro de 2012

Entenda como funciona o novo sistema de cotas da UFPA


REPASSANDO: A PARTIR DE http://www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=6556

Entenda como funciona o novo sistema de cotas da UFPA


A partir do próximo vestibular, as universidades devem adotar a nova lei sancionada pela Presidente Dilma Rousseff, sobre os sistemas de reserva de vagas em universidades públicas. No Pará, a Universidade Federal do Pará (UFPA) já estudou as novas regras e adaptou seu sistema de cotas à nova legislação. Com isso, a partir do Processo Seletivo 2013 (PS 2013) a Federal Paraense institui um novo tipo de cota: a cota renda.
A Lei Federal nº 12.711/2012 reserva 50% das vagas ofertadas nos cursos de graduação para estudantes que cursaram todo o ensino médio na rede pública de ensino e, destas, 50% para alunos cuja renda familiar per capita seja de até um salário mínimo e meio, o que está sendo chamado de cota renda. Mas o que isso significa para os estudantes que concorrem a uma vaga no próximo vestibular da UFPA?
“A nova Lei mostra o quão avançado é o nosso sistema de cotas. Desde 2008, a UFPA adota a reserva de 50% das vagas para alunos da rede pública de ensino. Além disso, mantemos 40% destas vagas reservadas para estudantes que se autodeclaram negros ou pardos. A novidade trazida pela Lei é que, tanto em relação à cota escola quanto em relação à nossa cota cor, 25% destas vagas passarão a ser reservadas para estudantes pertencentes a famílias cuja renda per capita não ultrapasse 1,5 salários”, detalha a Marlene Freitas, e pró-reitora de Ensino de Graduação (Proeg) da UFPA
Na prática, das 8.569 vagas ofertadas no Processo Seletivo 2013 (PS 2013) da UFPA, 895 são destinadas para as cotas para quilombolas, indígenas e deficientes, as quais são vagas criadas em acréscimo quando há candidatos aprovados nos curso de graduação em cada grupo. Completando a Política de Inclusão, a UFPA oferece vagas aos cursos de Educação do Campo e Etnodesenvolvimento, totalizando 126 vagas. Das vagas restantes, 50% são voltadas para a reserva de vagas aos estudantes que tenham cursado todo o ensino médio na rede pública. Porém há subgrupos dentro desta cota.
Apreciação - Assim, no PS 2013 da UFPA, o correspondente a 22% das vagas será destinado aos alunos da rede pública, por meio da chamada cota escola; 8% são voltadas para a cota escola renda, ou seja, aos alunos que, além de serem estudantes da rede pública, também tenham renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo; outros 15% das vagas são destinadas à cota cor, ou seja, reservadas aos alunos que, além de serem de escolas públicas, se autodeclaram negros ou pardos; 5% são reservados para a cota cor renda, ou seja, serão reservadas a estudantes que estudaram todo o ensino médio na rede pública, se autodeclaram negros ou pardos e possuem renda familiar de até 1,5 salário mínimo per capita. “Esses percentuais são aproximados, já que, na verdade, o cálculo é feito a partir de cada curso”, explica Marlene Freitas.
Outras cotas existem, mas criam vagas a mais nos cursos - Além das cotas escola, cor e renda, a UFPA possui ainda três outros tipos de cotas. Candidatos portadores de necessidades especiais podem concorrer a uma vaga em cada curso de graduação ofertado anualmente pela UFPA. “No caso da cota para pessoas com deficiência, eles fazem a mesma prova que os demais candidatos. Nos outros dois tipos de cotas, há processos seletivos especiais que ocorrem paralelamente ao PS 2013 e têm editais específicos com inscrições à parte”, explica Marlene Freitas.
Em todos os cursos da UFPA, também há a possibilidade de criação de duas vagas para alunos oriundos de populações indígenas e outras duas para estudantes de origem quilombolas. “Esta cota para quilombolas será adotada pela primeira vez em 2013 e foi criada na reunião do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) realizada no final do mês de agosto”, conta.
Datas importantes do Processo Seletivo 2013 da UFPA>> Lançamento do edital – até 14 de setembro no www.ceps.ufpa.br
>> Período de inscrições – de 19 de setembro a 10 de outubro
>> Pedido de isenção – de 19 a 26 de setembro
>> Divulgação da lista de isentos – A partir de 5 de outubro
>> Fim do prazo de pagamento da taxa de inscrição – 11 de outubro
>> Primeira fase do PS 2013/Enem – 3 e 4 de novembro
>> Exame de habilidades em Música – 18 de novembro
>> Previsão de divulgação do resultado do exame de habilidades – A partir de 22 de novembro
>> Impressão do Cartão de Inscrição – A partir de 26 de novembro
>> Segunda fase do OS 2013/prova elaborada pela UFPA – 9 de dezembro, das 13h às 17h
>> Previsão de divulgação do resultado final – segunda quinzena de janeiro de 2013
Texto: Glauce Monteiro - Assessoria de Comunicação da UFPA
Imagens: Alexandre Moraes e Karol Khaled

Alunos com baixa renda terão cota no próximo vestibular da UFPA



Alunos com baixa renda terão cota no próximo vestibular da UFPA

Esta é a sexta cota adotada pela federal paraense.
Das mais de 8 mil vagas ofertadas, 1.021 são para cotistas.

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A Universidade Federal do Pará (UFPA) divulgou nesta quinta-feira (13) a criação de um novo tipo de reserva de vagas: a cota renda. A medida obedece a nova legislação que regulamenta as cotas no país e reserva 25% das vagas nas universidades públicas a estudantes que cursaram todo o ensino médio na rede pública de ensino e que tenham renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo.
O edital do Processo Seletivo 2013 (PS 2013) da universidade já está disponível para consultas no site da instituição e as inscrições começam na próxima quarta-feira (19). Este ano, ao todo serão ofertadas 8.569 vagas, sendo que 1.021 delas destinada ao sistema de cotas da instituição. 
A partir de 2013, há seis tipos de cotas na UFPA. Três delas criam vagas a mais. Quilombolas, indígenas e portadores de deficiência concorrem a 895 vagas exclusivas que são criadas quando candidatos são aprovados no concurso. Sendo, duas para os dois primeiros grupos que são selecionados por editais especiais com provas específicas e uma vaga destinada aos portadores de necessidades especiais (PNE) que participam da mesma prova aplicada aos demais candidatos.
Estudantes de escola pública de famílias que ganham até um salário mínimo e meio terão acesso facilitado á UFPA. (Foto: Karol Kaledh / UFPA)Estudantes de escola pública de famílias que ganham até um salário mínimo e meio terão acesso facilitado á UFPA. (Foto: Karol Kaledh / UFPA)
Há ainda dois cursos de bacharelado ofertados anualmente que são destinados especificamente á quilombolas, indígenas, moradores de assentamentos e/ou ribeirinhos. As graduações em Educação no Campo e Etnodesenvolvimento ofertam, juntas, outras 126 vagas.
CotaPercentual
Cota escola
Cota cor
Cota escola renda
Cota cor renda
A parte do sistema de cotas
22% 
15%
8%

5%
50%
 As outras três cotas da federal paraense criam reserva de vagas nos cursos ofertados e garantem que 50% dos ingressantes na universidade sejam oriundos da rede pública de ensino. Desde 2008, a UFPA já adotava a cota escola e a cota cor. A primeira reserva metade do total de vagas para candidatos que cursaram todo o ensino médio em escolas da rede pública. Enquanto a segunda garante que 40% destas vagas, ou seja, 20% do total das vagas anuais, sejam preenchidas por estudantes da rede pública que se autodeclaram negros ou pardos.
“A novidade trazida pela lei é que, tanto em relação à cota escola, quanto em relação a nossa cota cor, 25% destas vagas passarão a ser reservadas para estudantes pertencentes a famílias cuja renda per capita não ultrapasse 1,5 salários”, detalha a Marlene Freitas, pró-reitora de Ensino de Graduação (Proeg) da UFPA. 
A nova regra muda os percentuais ofertados para cada grupo de cotistas a cada ano. De tal modo, no próximo vestibular o correspondente a 22% das vagas serão destinadas aos alunos da rede pública por meio da chamada cota escola; 8% são voltadas para a cota escola renda, ou seja, aos alunos que além de serem estudantes da rede pública também tenham renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo.
Em relação a cota cor, a universidade reserva 15% das vagas aos alunos que além de serem de escolas públicas, se autodeclaram negros ou pardos e outros 5% são reservadas para a cota cor renda, ou seja, serão preenchidas por estudantes que estudaram todo o ensino médio na rede pública, se autodeclaram negros ou pardos e possuem renda familiar de até 1,5 salário mínimo per capita. “Esses percentuais são aproximados, já que, na verdade, o cálculo é feito a partir de cada curso”, explica Marlene Freitas. 
Professores indígenas formados devem garantir ensino bilíngue em aldeias no oeste do Pará. (Foto: Alexandre Moraes/UFPA)Como os indígenas, quilombolas também terão duas vagas específicas em cada curso ofertado. (Foto: Alexandre Moraes/UFPA)
InscriçõesA prova da UFPA, agendada para o dia 9 de dezembro, corresponde à segunda fase do concurso que garante uma vaga no ensino superior da Federal Paraense. A primeira fase do Processo é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), agendado para os dias 3 e 4 de novembro. O candidato que não tiver realizado inscrição no Enem 2012 terá sua inscrição rejeitada no Processo Seletivo da UFPA.
Para se inscrever no PS 2013, o candidato deverá preencher o formulário eletrônico com sua opção de curso, língua estrangeira e a cidade de realização da prova. Efetuado o preenchimento, o sistema gera o boleto bancário para o pagamento da taxa de R$ 50. A data limite para esse pagamento é o dia 11 de outubro. A inscrição somente será confirmada após o processamento do pagamento da taxa de inscrição pelo Banco do Brasil. 

Motor consome dendê, e não diesel

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Motor consome dendê, e não diesel
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Ricardo Pereira (à dir.) e o professor Manoel Nogueira:
uso do óleo de palma produz menos impacto ambiental

por Pedro Fernandes / Agosto 2012
foto Alexandre Moraes

O uso de óleos vegetais in natura como combustível de motores diesel tem se intensificado no Brasil. O grande potencial de cultivo de oleaginosas no País, sobretudo na Amazônia, favorece a substituição do óleo diesel, combustível poluente, pelo óleo vegetal, fonte renovável de energia. Diante deste cenário, o mestrando Ricardo da Silva Pereira, da Universidade Federal do Pará (UFPA), desenvolveu a Dissertação Avaliação e Desempenho de Motor de Injeção Indireta Consumindo Óleo de Palma in Natura, defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (PPGEM) da UFPA, área de concentração "Térmica e Fluidos".
Sob a orientação do professor doutor Manoel Nogueira, o pesquisador testou um motor de injeção indireta consumindo óleo de palma in natura e comparou os resultados a uma base de informações referentes ao desempenho do óleo diesel. A proposta do trabalho é utilizar óleo de palma (dendê) in natura como combustível de motores de injeção indireta e avaliar se o uso de óleo natural promove um bom desempenho da máquina, bem como se ameniza o impacto ambiental causado pelo emprego do óleo vegetal em motores de injeção direta.
"Tive que fazer uma revisão bibliográfica para saber dos trabalhos que já existiam. A maioria das pesquisas que encontrei utilizava motores de injeção direta. Nesse tipo de motor, o óleo é pulverizado diretamente na câmara de combustão", explicou o pesquisador. "Para melhorar a eficiência do motor funcionando com óleo vegetal, os trabalhos já desenvolvidos mostram a viabilidade do uso de motores de injeção indireta. Por isso, nós mudamos o tipo de injeção para ver se melhora a qualidade da queima do combustível, do óleo vegetal."
O óleo de palma pode ser usado como combustível, sem precisar sofrer processos químicos relevantes. Ele precisa somente de filtragem e neutralização, dois processos simples, segundo Ricardo. Todavia o uso do óleo de palma in natura em motores diesel de injeção direta também possui alguns problemas. Entre eles, a alta de viscosidade do óleo de palma à temperatura ambiente e a demanda por maior tempo de combustão, comparado ao óleo diesel, na mesma temperatura, aponta o estudo. O primeiro problema foi resolvido preaquecendo o óleo vegetal, com o auxílio de uma resistência térmica, antes de injetá-lo no motor.  O segundo, mantendo a temperatura dentro da câmara de combustão alta, de modo a acelerar a queima do combustível.

Desafio é fazer o equipamento trabalhar por mais tempo

Apesar dos obstáculos, o uso de óleo de palma em motores diesel de injeção indireta mostra-se viável, em especial para o suprimento de energia elétrica em localidades isoladas. Antes dos testes, foram feitas em laboratório a caracterização energética e a análise elementar do óleo diesel e do óleo de palma. Os ensaios foram da seguinte maneira: primeiro, foi usado um motor de injeção indireta (Hyundai), acoplado a um gerador, consumindo óleo diesel; em seguida, trocou-se o óleo diesel por óleo de palma in natura. Essa mudança também foi feita usando um motor de injeção direta (Cummins).
O trabalho observou as diferenças percentuais absolutas desta troca de combustível para os dois motores. As características físicas dos motores não foram consideradas, apenas a troca de diesel para óleo vegetal. Os testes para os grupos geradores, motor e gerador, foram realizados para diferentes percentuais da carga máxima do gerador, 100%, 85% e 75%. A comparação do desempenho dos motores foi feita pelas emissões dos gases produzidos (CO, CO2, NOx), pela temperatura dos gases de escape (medida na saída do cilindro do motor), pela potência gerada, pela vazão de combustível, pelo consumo específico de combustível e pelo rendimento para os dois motores.
"Levando em consideração as diferenças entre o diesel e o óleo vegetal no motor de injeção direta e no motor de injeção indireta, foi provado que o motor de injeção indireta tem o potencial de funcionar melhor. Mas há a necessidade de algumas adaptações no motor. Esse foi o primeiro diagnóstico a que chegamos, ou seja, o motor de injeção indireta é bom. Mas ele ainda não está preparado para funcionar de forma adequada com o óleo vegetal. Então, a ideia é desenvolver ainda mais a tecnologia para adequá-la, de forma permanente, à realidade do óleo vegetal", esclarece o pesquisador.
"A ideia é boa, mas o problema é que, no motor, o sistema de alimentação tem que ser adaptado. Por exemplo, se nós pegarmos o óleo vegetal agora e colocarmos dentro de um motor a diesel, vai funcionar. Mas logo vai parar. Por isso, temos que modificar as variáveis de funcionamento do motor para que ele consiga trabalhar com o óleo vegetal à baixa potência e por muito tempo", acrescenta Manoel Nogueira.

Com produção local, custo do combustível pode ser menor

Em 2010, ainda em fase de elaboração, o trabalho foi aplicado no município de Igarapé-Açu do Moju, localidade do Alto Moju, no Pará. A tecnologia foi instalada no local para gerar energia elétrica e atender a demanda de 56 famílias. A central foi mantida em funcionamento durante um mês e trabalhava das 18h às 23h30, consumindo apenas óleo de palma. "Nós adotamos o dendê, porque é uma oleaginosa abundante na região. Mas a ideia é usar qualquer óleo vegetal", afirmou o professor Manoel Fernandes. "Produzir óleo vegetal é uma coisa relativamente simples. A semente é esmagada, o óleo é extraído e filtrado. Tem-se o combustível. Ele pode ser usado em motores de barco, no carro e na geração de energia elétrica", explicou.
Hoje, o dendê é extraído no interior do Estado, levado para a capital, transformado e misturado com diesel. Retorna às comunidades como biodiesel, por um valor mais alto do que se fosse produzido e comercializado por elas mesmas. Nesse sentido, se aplicada em tais localidades, a tecnologia elaborada pelo pesquisador pode incentivar a produção local e diminuir o custo do combustível, encarecido pela logística do transporte e pela tecnologia sofisticada de produção de biodiesel. Além disso, com essa nova tecnologia, não mais seria necessário transformar o óleo de palma em biodiesel (processo de transesterificação).
Por ter um ciclo de produção de gases de efeito estufa próximo a zero (o carbono emitido é absorvido pela oleaginosa durante o seu crescimento), o óleo de palma é uma alternativa energética benéfica ao meio ambiente. O óleo diesel, além disso, contém o enxofre, um dos principais agentes de poluição da natureza. "A ideia é diminuir o consumo de derivados do petróleo", disse Ricardo Pereira.
O objetivo do trabalho ainda não foi totalmente alcançado. Até então, conseguiu-se fazer o motor trabalhar a 70% de sua potência nominal. A meta é baixar para 50%, limite da aplicação comercial do motor.

ITEC desenvolve filtros para monitorar rios

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Filtros foram desenvolvidos em múltiplas camadas,
obtidas a partir de material reciclado

por Mayara Albuquerque / Agosto 2012
foto Alexandre Moraes


Desenvolver filtros com a função de promover o biomonitoramento da qualidade da água dos rios, estimular a conscientização ambiental e aplicar os conhecimentos técnicos na busca de soluções para o meio ambiente. Esses são os objetivos do Projeto "Desenvolvimento de Filtros Integrantes e Eco-Barco para o Biomonitoramento da Água dos Rios", desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia (ITEC) da Universidade Federal do Pará, sob a coordenação da professora Carmem Gilda Dias. O Projeto integra atividades das Faculdades de Engenharia Naval, Engenharia Mecânica e Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA.
A poluição da água é a modificação das características de um ambiente pela adição de substâncias ou formas de energia que alteram sua natureza, de forma a prejudicar seu uso, a vida e o bem-estar de todos os seres vivos. Atualmente, uma grande quantidade de materiais pós-consumo e combustíveis de embarcações são lançados diariamente nos rios. Os impactos no ecossistema aquático aumentaram nos últimos anos com o uso indiscriminado de alguns produtos, como detergentes, pesticidas, aditivos, plásticos, entre outros. Outros fatores que comprometem o ambiente hídrico são o crescimento populacional, o processo de urbanização desordenada e a deficiência dos serviços de saneamento básico.
Com o objetivo de usar o conhecimento adquirido na Universidade para mudar essa realidade, o Projeto "Eco-Barcos para Educação Ambiental" propõe a reciclagem dos materiais pós-consumo para transformá-los em embarcação de coletas de resíduos sólidos. Assim, o eco-barco é construído a partir de garrafas PET, latinhas de cerveja e de refrigerante. A base para sua construção e o grande diferencial do produto são a técnica de roto-moldagem, que reprocessa polímeros e outros materiais reciclados. A embarcação é a primeira, no Brasil, construída com essa técnica. O trabalho também propõe promover a conscientização ecológica de quem mora na Região Metropolitana de Belém, para evitar o despejo de resíduos sólidos nos rios da região.

Pesquisa seleciona no próprio lixo elementos filtrantes

Atuando no Projeto, a estudante Ana Paula Soares desenvolveu sua pesquisa de mestrado com a perspectiva de fornecer para o eco-barco filtros que pudessem fazer o biomonitoramento da água dos rios, fazendo a integração entre as comunidades acadêmica, ribeirinha e estudantil. De acordo com a professora Carmen Gilda, os filtros foram constituídos por múltiplas camadas de elementos filtrantes com características seletivas.
"Um dos graves problemas que encontramos em nossos rios é em relação à contaminação de óleos e graxas despejados pelas embarcações. Se estamos preparando embarcações com a função de preservar o meio ambiente, por que não destinar algumas embarcações para fazer a limpeza dos óleos e graxas e, ao mesmo tempo, conscientizar a população? Foi essa a ideia que incitou este Projeto," explica a professora.
Os filtros são desenvolvidos pela equipe no Laboratório de Engenharia Mecânica da UFPA e sua arquitetura é constituída por um conjunto de funções, entre as quais, estão a conservação da fauna de macroinvertebrado e a remoção dos sólidos e líquidos viscosos. Ele foi desenvolvido em múltiplas camadas, obtidas a partir de materiais reciclados de embalagens pós-consumo, polietileno e celulose e argilominerais naturais.
Segundo Ana Paula Soares, as fibras de celulose são obtidas por meio da polpa da madeira e de outras fontes naturais. Para a construção dos filtros, o grupo usou as fibras contidas em embalagens cartonadas multicamadas, que são constituídas por três matérias-primas: estruturação de celulose, lâminas de alumínio e filmes poliméricos. Ela explica que a celulose é o composto responsável pela retenção dos óleos devido a sua compatibilidade química. Os polímeros, como o polietileno, o polipropileno e o poliestireno, são amplamente utilizados como matéria-prima para embalagens poliméricas (filmes plásticos metalizados) e apresentam algumas propriedades, como alta resistência ao impacto, baixo custo, excelente processabilidade, além de serem inertes a muitos produtos químicos e terem sido utilizados para dar resistência aos filtros, protegendo a celulose.
De acordo com a pesquisadora, esses compósitos foram escolhidos devido a suas características seletivas e, de acordo com a sua formulação, conseguem identificar, em meio a inúmeras substâncias, aquela na qual  o grupo esteja interessado, ou seja, são utilizadas substâncias que reagem de acordo com o que se quer detectar, filtrar ou imobilizar, neste caso, graxas e óleos nocivos ao meio ambiente aquático.
"O acelerado crescimento, sem condições adequadas de habitação e saneamento básico, tem prejudicado excessivamente a água dos nossos rios. Alguns estudos citados já comprovam o elevado índice de poluição existente, por exemplo, no rio Tucunduba. A nossa intenção é pegar tudo aquilo que iria para o lixo e transformar em elementos filtrantes e filtros, transformando este material reciclável em bens para a própria comunidade", explica.

Atividades de extensão envolvem educação ambiental

Além do desenvolvimento dos filtros, o Projeto propõe a conscientização da população que tem contato diariamente com os rios. As atividades estão vinculadas às atividades de extensão dos cursos de Engenharia Sanitária e Ambiental. Segundo a coordenadora, os alunos trabalharam com a comunidade Porto do Açaí, na Baía do Guajará, em Belém, mostrando como fazer a destinação adequada do lixo. "Fizemos um trabalho com a comunidade, mostrando como deve ser feito o tratamento adequado do lixo produzido, ressaltando a importância da preservação da água para a vida da população," explica Carmen Gilda.
Durante a ação no Porto do Açaí, a equipe testou, também, os filtros para coletar dados em relação à sua eficiência, que foi comprovada. Segundo a professora, a ideia é que os eco-barcos equipados com os filtros sejam doados para que a comunidade possa utilizá-los na preservação dos rios. O Projeto "Desenvolvimento de filtros integrantes e eco-barcos para o biomonitoramento da água dos rios" foi desenvolvido no período de 2008 a 2011 e já iniciou novos planos para o futuro.
Utilizando o mesmo processo de roto-moldagem, o grupo pretende fazer filtros para o tratamento de outros tipos de rejeitos encontrados nos rios, como os metais contaminantes. "Nossa universidade tem um diferencial geográfico em relação às outras, os nossos rios. Devolver o conhecimento para a população preservando o que é nosso é um orgulho," conclui a professora Carmem Gilda.
O "Eco-Barcos" é financiado pelo CNPq e tem como colaboradores o ETPP, CEFETPA, IBAMA, POEMATEC, PROEX, FAPESPA, VALE e COPALA. Informações: 3201-7324.